A Lenda dos Siyavumas

outubro 16, 2019


Havia um mercado, algures de Moçambique onde a mercadoria mais vendida era peixe. As senhoras acordavam as quatro horas, deixando os seus quartos e seus maridos afim de esperar os pescadores para mercar o peixe. As seis horas dava para ouví-las de longe, conversando num tom alto e felizes com a suas bacias de peixe nas cabeças.
 A concorrência era tão enorme que outras acabavam por deixar o peixe em frigoríficos do mercado, ficando dois ou três dias, em caso de não haver compra o peixe era jogado no lixo. Era muito difícil gerar lucro.
Dentre as senhoras vendedeiras, havia uma senhora, de nome Albertina, que não tinha sorte nas vendas, deitava o seu peixe quase todos os dias. As vezes nem vendia um molho se quer. Ela se indagou: “Porquê o meu peixe não é comprado? Será que é diferente do das outras vendedeiras? Sem solução, procurou saber da senhora Denise, que vendia em média duas a três bacias de peixe por dia.
Em conversa:

Albertina:  bom dia dona Denise!
Denise: bom dia dona Albertina, como está?
Albertina: estou bem e você dona Denis?
Denise: hahh como vês, estou bem.
Albertina: e os negócios?
Denise:vão muito bem.
Albertina: que bom. Tenho uma pergunta a lhe fazer.
Denise: sim dona Albertina, esteja a vontade.
Albertina: qual é segredo para vender tanto peixe assim? Estou vendendo nada pois todos os dias o meu peixe vai à cova e estou indo à falência.
Denise: queres mesmo saber do segredo dona Albertina?
Albertina: quero muito saber, as minhas poupanças acabaram por mercar peixe e sem ganhar lucros de volta.
Denise: está bem dona Albertina. Eu conheço um senhor que me ajudou a ter sucesso nas vendas, mas é preciso um sacrifício sem recear as consequências. Se quiseres posso te levar até ele.
Albertina: faria qualquer coisa para poder vender um pouco para ajudar nas despesas de casa.
Denise: amanhã eu te levarei até lá. Ele vive bem distante daqui.

A dona Albertina era uma senhora de Deus, mãe de uma linda menina dos seus dez anos de idade e amava muito a sua única filha. Mas como ela queria vender muito igual à dona Denis, preferiu apressar a sorte.
No dia seguinte, ela e a dona Denis partiram ao encontro desse senhor, que na verdade era um curandeiro, natural de Mambone. Chegados à residência do curandeiro foram indiv=cadas a entrar numa palhota onde toda a magia acontecia.

Em conversa com o curandeiro:
Curandeiro: o que vos traz até aqui?
Denis: trago a minha amiga, diz querer ter sorte nas vendas.
Albertina: preciso muito saber qual é o segredo de vender bem o peixe.
Curandeiro: isso não é nenhum problema. Teu problema é minha solução.
Albertina: o que devo fazer?
Curandeiro: farei o que pedes, mas tens que me dar o que mais amas em troca.
Albertina: posso te dar qualquer coisa, desde que eu venda bem.

(Albertina ao pronunciar isso se esqueceu que punha em risco a vida da sua amada e querida filha que era a única coisa que mais amava na sua vida)

O curandeiro pronunciou os siyavumas, que por sua vez pediu para que a Albertina repetisse com ele afim de por o processo em andamento. Terminado o atendimento, o curandeiro disse-a que era tudo e que podia agora vender mais que qualquer outra vendedeira no mercado.
Dona Albertina, ao chegar à casa encontra a filha imóvel no chão, pega-a para ver o que se passa, mas encontrava-se já estava sem vida. Ao pronunciar as palavras do curandeiro estava a entregar a alma da filha aos demónios do curandeiro em troca da sorte. A dor da dona Albertina foi enorme, mas era tarde para trazer de volta a sua filha.

Uma semana depois do funeral, ela regressou às vendas. Desta vez as pessoas compravam o seu peixe mais que as demais vendedeiras daquele mercado. Mas havia um problema diante dos olhos dela: via a sombra da sua amada filha a chamar as pessoas para irem comprar o peixe da sua mãe. Isso era o começo do pesadelo da vida da dona Albertina. Vendia bem, mas tinha que viver com o peso na consciência e ver a sua filha que foi enterrá-la. A dona Albertina não aguentou com a overdose de ver a filha, acabou por enlouquecer.

Até hoje a dona Albertina continua carregando uma bacia em sua cabeça e diante dos seus olhos vê a imagem da sua filha.


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