A Sexy Mulher do Bar - Capítulo IV

outubro 16, 2019

Capítulo IV
Vivendo com HIV
Após a indicação para a medicação, passei a frequentar palestras e seminários de aconselhamento às pessoas vivendo com HIV. Não foi fácil encarar a realidade e ter que vivencia-la pelo resto da vida. Enquanto isso, a Soraya, minha companheira fazia tudo por tudo para que eu não desistisse do tratamento e nem de nós.
Durante as sessões de aconselhamento às pessoas vivendo com HIV tive uma informação surpreendente que alegrou a minha alma. O conselheiro disse que era possível gerar filhos mesmo sendo infectado pelo vírus, sem transmiti-lo à mãe e à criança. Todavia, para tal era importante seguir as instruções médicas, tomando os antiretrovirais, comendo alimentos saudáveis e ricos em vitaminas. Durante esse processo todo, o vírus estará a adormecer e, consequentemente as análises vão dar negativo.

Enquanto lamentava o facto de não poder dar filhos à Soraya, netos aos meus pais e sobrinhos aos meus irmãos, a vida sorriu para mim em outra oportunidade. Saí das instalações do centro de aconselhamento numa velocidade como se pudesse levantar o voo. Chegado à casa, bem contente, e a Soraya sem nada entender retorquiu “o que deu em você, viu alguma estrela cadente?”. A respondi que não, mas que tinha algo a contá-la. Primeiro: que era possível gerar filhos saudáveis  mesmo eu sendo portador do HIV.

Ela, espantada e animada perguntou: como? A falei dos procedimentos que tive na sessão de aconselhamento. Portanto, ela se alegrou, contamos aos nossos familiares sobre a boa nova. Continuei medicando e alimentando-me devidamente até que, certo dia, voltei ao Centro de Saúde para as análises e devido às medicações, os resultados deram negativo. Passado algum tempo a Soraya disse que o seu periodo menstrual tinha atrasado. Então,  fomos à farmácia, comprámos o teste de gravidez para esclarecer as nossas incertezas.

O aparelho de teste de gravidez marcava dois traços, ela estava grávida. Ficámos tão emocionados. Enquanto isso, eu continuava com a medicação. Acontecido, procuramos tratamentos no hospital para proteger a Soraya e a criança do vírus. Seguimos todas recomendações médicas que o doutor indicou. Nove meses depois, a Soraya deu luz a um lindo menino. Era forte e saudável, que de imediato foi submetido a várias análises, incluindo a de HIV. Concluiu-se que a criança nasceu sem nenhum vírus e que a mãe também estava limpa. Apesar do que aconteceu na tarde daquela quarta-feira, num dos quartos dos condomínios a 500 metros da esquina do Barman, a vinda de um filho à terra me fez renascer e com capacidade de viver sem lamentar o passado.

Agradecer a Soraya por não ter desistido de mim e nem da nossa relação. Um forte apreço vai para a minha família que não me desamparou quando mais precisei, vai também um grande abraço aos amigos e colegas do trabalho que não me estigmatizaram por ser uma pessoa seropositiva. Todas estas pessoas me acolheram com amor, carinho, atenção e dedicação. Louvar os ensinamentos que acolhi e continuo acolhendo das pessoas que vivem com vírus como eu, conselhos dos palestrantes  e atendimentos médicos. Mas o grande obrigado vai para o Senhor (Deus) que me deu forças de lutar contra o vírus, dando-me esperança de sorrir novamente, abraçar a vida com ternura e delicadeza.

O sucesso de poder gerar um filho, mesmo doente foi graças à colaboração destas pessoas e as demais que circulavam ao meu redor. Hoje, tenho uma família e vivo muito feliz com a Soraya e o nosso filho Marques Júnior.

Reflexão: se você é uma pessoa que vive com HIV, não tenha receio de se aproximar ao hospital e começar o tratamento. A vida não está acabada, apenas deu uma pausa para reflectir sobre as nossas acções mas depois continua. É possível sim ser feliz mesmo com uma doença vitalícia.
Muito obrigado por acompanharem a minha triste e feliz história de vida, que sirva de lição para mais pessoas.


Aguardem pelo segundo Capítulo do Romance “O Padrasto”. Quem não leu o primeiro capítulo, leia aqui O Padrasto – Capítulo I

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