A Sexy Mulher do Bar - Capítulo IV
Capítulo IV
Vivendo com HIV
Após
a indicação para a medicação, passei a frequentar palestras e seminários de
aconselhamento às pessoas vivendo com HIV. Não foi fácil encarar a realidade e
ter que vivencia-la pelo resto da vida. Enquanto isso, a Soraya, minha
companheira fazia tudo por tudo para que eu não desistisse do tratamento e nem
de nós.
Durante
as sessões de aconselhamento às pessoas vivendo com HIV tive uma informação
surpreendente que alegrou a minha alma. O conselheiro disse que era possível
gerar filhos mesmo sendo infectado pelo vírus, sem transmiti-lo à mãe e à
criança. Todavia, para tal era importante seguir as instruções médicas, tomando
os antiretrovirais, comendo alimentos saudáveis e ricos em vitaminas. Durante
esse processo todo, o vírus estará a adormecer e, consequentemente as análises
vão dar negativo.
Enquanto
lamentava o facto de não poder dar filhos à Soraya, netos aos meus pais e
sobrinhos aos meus irmãos, a vida sorriu para mim em outra oportunidade. Saí
das instalações do centro de aconselhamento numa velocidade como se pudesse
levantar o voo. Chegado à casa, bem contente, e a Soraya sem nada entender retorquiu
“o que deu em você, viu alguma estrela
cadente?”. A respondi que não, mas que tinha algo a contá-la. Primeiro: que
era possível gerar filhos saudáveis mesmo eu sendo portador do HIV.
Ela,
espantada e animada perguntou: como?
A falei dos procedimentos que tive na sessão de aconselhamento. Portanto, ela
se alegrou, contamos aos nossos familiares sobre a boa nova. Continuei
medicando e alimentando-me devidamente até que, certo dia, voltei ao Centro de
Saúde para as análises e devido às medicações, os resultados deram negativo. Passado
algum tempo a Soraya disse que o seu periodo menstrual tinha atrasado. Então,
fomos à farmácia, comprámos o teste de gravidez para esclarecer as nossas
incertezas.
O aparelho de teste de gravidez marcava dois traços, ela estava
grávida. Ficámos tão emocionados. Enquanto isso, eu continuava com a medicação. Acontecido,
procuramos tratamentos no hospital para proteger a Soraya e a criança do vírus.
Seguimos todas recomendações médicas que o doutor indicou. Nove meses depois, a
Soraya deu luz a um lindo menino. Era forte e saudável, que de imediato foi
submetido a várias análises, incluindo a de HIV. Concluiu-se que a criança
nasceu sem nenhum vírus e que a mãe também estava limpa. Apesar
do que aconteceu na tarde daquela quarta-feira, num dos quartos dos condomínios
a 500 metros da esquina do Barman, a vinda de um filho à terra me fez renascer
e com capacidade de viver sem lamentar o passado.
Agradecer
a Soraya por não ter desistido de mim e nem da nossa relação. Um forte apreço
vai para a minha família que não me desamparou quando mais precisei, vai também
um grande abraço aos amigos e colegas do trabalho que não me estigmatizaram por
ser uma pessoa seropositiva. Todas estas pessoas me acolheram com amor,
carinho, atenção e dedicação. Louvar os ensinamentos que acolhi e continuo
acolhendo das pessoas que vivem com vírus como eu, conselhos dos palestrantes
e atendimentos médicos. Mas o grande obrigado vai para o Senhor (Deus) que
me deu forças de lutar contra o vírus, dando-me esperança de sorrir novamente,
abraçar a vida com ternura e delicadeza.
O
sucesso de poder gerar um filho, mesmo doente foi graças à colaboração destas
pessoas e as demais que circulavam ao meu redor. Hoje, tenho uma família e vivo
muito feliz com a Soraya e o nosso filho Marques Júnior.
Reflexão:
se você é uma pessoa que vive com HIV, não tenha receio de se aproximar ao
hospital e começar o tratamento. A vida não está acabada, apenas deu uma pausa
para reflectir sobre as nossas acções mas depois continua. É possível sim ser
feliz mesmo com uma doença vitalícia.
Muito
obrigado por acompanharem a minha triste e feliz história de vida, que sirva de
lição para mais pessoas.
Aguardem
pelo segundo Capítulo do Romance “O
Padrasto”. Quem não leu o primeiro capítulo, leia aqui O Padrasto – Capítulo I
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